Por força do acordo com a troika um
dos temas do momento é a reestruturação do poder local. E por reestruturação
entenda-se a diminuição do peso da despesa deste sector da administração no
conjunto da despesa pública nacional. Ou, mas isto sou a divagar, fazer
qualquer coisa – umas medidazecas, vá – para dar a entender que o país está a
cumprir os compromissos assumidos perante os gajos que nos emprestam o dinheiro
que nos vai permitindo continuar a fazer figura de alarve. Daí que a discussão
ande em torno da redução de freguesias, diminuição de vereadores e outras
banalidades que, na melhor das hipóteses, reduzirão a despesa em meio
cagagésimo.
Ora o problema das autarquias é,
parece mais que evidente, o excesso de endividamento. Deixando de lado tudo o
que tem contribuído para isso – e continua a contribuir porque os autarcas vão
cantando e rindo como se nada estivesse a acontecer – importa tomar medidas
legislativas que, de uma vez, ponham fim ao acumular de dividas por parte dos
municípios portugueses. A solução não podia ser mais simples, eficaz e barata.
Basta uma pequena alteração ao POCAL (Plano Oficial de Contabilidade das
Autarquias Locais) nomeadamente das regras previsionais previstas no ponto 3.3
do citado Plano. Às seis regras, já existentes, a que deve obedecer a
elaboração do orçamento seria suficiente, em minha opinião, acrescentar uma
alínea que determinasse mais ou menos isto: “O valor total do orçamento do ano
n+1 não pode exceder em 10% (*) o total das receitas cobradas no ano n-1”.
Seria assim impossível a uma autarquia com uma receita efectiva de doze milhões
de euros elaborar um orçamento de trinta. O que significa, nos moldes actuais,
que apenas pela via orçamental se pode endividar em dezoito milhões.
Pode argumentar-se que já existem
limites ao endividamento que impedem o seu crescimento. Pois, lá isso pode. O
pior é que não são cumpridos e as consequências do seu incumprimento são
praticamente irrelevantes para os incumpridores. Pelo contrário, a introdução
da norma que acima referi inviabilizaria, logo à partida, que fossem assumidas
despesas para as quais a autarquia não tivesse capacidade de pagamento. Mas,
claro, o lobby dos autarcas nunca deixará que semelhante entrave lhes seja
colocado. Era o que mais faltava. E os partidos, do governo ou da oposição,
também não. Era uma chatice. É muito melhor andarmos para aqui a discutir
parvoíces porque assim, com a nossa natural habilidade para estas coisas,
enrolamos os gajos da troika e fica tudo na mesma.
(*) Valor meramente indicativo que
podia, em alternativa, ser o da taxa de inflação verificada nos anos em causa.
Endividar é que está a dar...
ResponderEliminarTens toda a razão...e por parte deste governo estou a ver muita parra e pouca uva.
ResponderEliminarAs autarquias são os pontas de lança do poder central. Fechar-lhes a torneira são muitos votos a menos... Não sei se terão coragem para isso.
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