quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Tenho direito a blasfemar!

Os sinais de um preocupante retrocesso civilizacional não param de nos surpreender e surgem de onde menos se espera. Desta vez não foi um grupo de velhos barbudos com ar alienado e aspecto de quem não toma banho há muitos meses a considerar blasfemos uns quantos rabiscos, afirmações ou textos de quem se está nas tintas para essa coisa dos deuses. Foi, isso sim, a democrática Irlanda, a mesma que repete referendos até que o resultado seja o pretendido, que inventou uma lei seriamente limitativa da liberdade de expressão quando em causa estão as crenças religiosas. De ora em diante quem proferir expressões atentatórias, abusivas ou insultuosas em relação a um assunto considerado sagrado por qualquer religião, causando indignação a um número substancial de seguidores dessa religião, poderá ser punido com multa até aos vinte cinco mil euros.
Este é um precedente – no ocidente apenas a Finlândia terá uma lei semelhante – que pode representar o fim da liberdade de expressão tal como a conhecemos. E não se pense que isso é problema apenas dos irlandeses. Esta lei incentivará aqueles países que defendem uma resolução da ONU que criminalize a nível mundial aquilo a que chamam difamação da religião. E será apenas o começo…porque essa malta das rezas e dos deuses não se vai ficar só por estas proibições.
Esta é uma lei claramente discriminatória. Apesar de supostamente pretender impedir que se goze com sentimentos, o que até pode parecer acertado, discrimina uns sentimentos em detrimento de outros. Para mim, que religião é o Benfica, continuarei desprotegido das blasfémias dos adeptos dos clubes minoritários. Ou seja de todos aqueles que não viram a Luz. Afirmar, sequer sugerir, que o Glorioso ganha os seus jogos graças às ajudas do árbitro causa-me, e também a um número significativo de seguidores – para aí uns seis milhões em Portugal e outros tantos no resto do mundo – uma profunda indignação. Tanta ou mais que aos cristãos quando se questiona a virgindade da mãe de Jesus – do outro, não do nosso – ou aos seguidores do profeta se sugerirmos que este era um brutamontes com cara de porco.

2 comentários:

  1. ehehehe, brilhante texto!

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  2. Para muitos a religião é DOGMA, aceita-se e não se discute, não se põe em causa...
    Na Irlanda, as coisas estão assim (com estas leis dogmáticas), porque foi recetemente divulgado que muitos padres, bispos até abusaram sexualmente de crianças (chama-se a isto pedofilia) durante anos, e, agora querem ocultar/esconder de modo a parecer que são uns "santinhos".
    Os irlandeses tal como os ingleses, gostam de parecer uma coisa e serem na realidade outra... Vejam só o malfadado caso "Maddie".
    P.S. - Tamos a viver um "retrocesso civilizacional" em muitos aspectos e o pior não é o religioso, é o:
    - Político, económico, social, ambiental...
    E mais não digo, porque mais não sei...(Mas sei muita coisa!)
    MFCC

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