quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Violadores


É provável que na sequência de mais uma inspecção da troika à maneira como nos estamos a comportar em matéria de cumprimento dos objectivos que acordámos cumprir sejamos confrontados com mais medidas de austeridade. E é muito bem feito.  Andamos mesmo a pedi-las. Veja-se, apenas um entre muitos outros, o exemplo daquela autarquia que, deliberadamente, assumiu violar a lei dos compromissos. A tal que, recorde-se, determina que os organismos públicos apenas gastem até ao limite do que podem pagar nos noventa dias seguintes e que, saliente-se igualmente, está enquanto princípio incluída no acordo de financiamento ao país.
Pode, naturalmente, discordar-se da dita lei. Podem os motivos para ultrapassar os seus limites serem muito nobres. Curiosamente, no caso e sempre que os autarcas a contestam, estão em causa o fornecimento das refeições e transportes escolares. Nunca, não menos curiosamente, as despesas com festarolas, assessorias manhosas ou obras de utilidade duvidosa. Ainda assim é lei e, portanto, para cumprir. Nem que as criancinhas levem o almoço de casa e tenham de ser levadas para a escola pelos pais. O que, diga-se, não me parece nada do outro mundo. Bem pelo contrário. Certamente não faltarão municípios que vão imitar Leiria e decidir não cumprir a lei. Coisa aparentemente de herói e que de certeza cairá bem entre os seus eleitores. Nós, portugueses, cá estaremos para pagar a conta.
Argumentam os autarcas, como justificação para o seu espírito esbanjador, que o contributo das autarquias para o défice não é mais do que umas décimas do seu valor. Talvez. Contudo a divida declarada do conjunto das autarquias ronda os dez mil milhões de euros. Declarada, sublinho. Cinco anos de subsidio de férias e de natal, portanto.

Sem comentários:

Enviar um comentário