Alguns, de repente e assim quase do nada, descobriram as virtudes
do trabalho. Nomeadamente aquelas que envolvem a alegada necessidade de
trabalhar mais horas, de acabar com feriados, suprimir pontes, gozar menos dias
de férias ou até, pasme-se, voltar a fazer do Sábado um dia normal de labuta. Porque,
dizem, tem sido o incumprimento destes preceitos que nos conduziu até aqui e
apenas trabalhando muito mais – tempo, entenda-se – sairemos da crise.
Noto inúmeras incoerências neste discurso. Principalmente quando,
em simultâneo, se enaltece ou alude como necessário o “investimento” nesta ou
naquela obra megalómana que lhes agrada particularmente. Mesmo que daí, passado
o período de construção e muitos milhões depois, não resulte a criação de qualquer
posto de trabalho. Pelo menos daqueles úteis e produtivos. Parece-lhes importar
muito pouco que os mamarrachos – os tais “investimentos”, segundo eles - apenas
pelo facto de existirem tenham custos significativos. Se calhar até mais
pesados para o país do que umas quantas tolerâncias de ponto. São, aliás,
conhecidos exemplos em que a demolição já chegou a ser ponderada como solução
mais razoável.
Apesar de todo o historial de má aplicação dos recursos públicos,
próprios ou vindos da Europa, insistem neste argumento patético. O rigor,
quando se trata de gerir a coisa pública, apenas se lhes afigura importante
quando em causa estão os direitos mais básicos das pessoas. Se for para
construir edifícios onde poucos entram, estradas onde ninguém passa, infra-estruturas
sem utilidade, distribuir benesses variadas por amigos ou compinchas ou
empregar militantes do partido circunstancialmente no poder, então isso já é
matéria pouco relevante e atirar para o populismo.
Mas, voltando à vaca fria – que é como diz a alegada necessidade
de trabalhar mais e, por consequência, ter menos dias de lazer – tenho sérias
dúvidas quanto ao real impacto na economia. Dividir o PIB pelo número de dias
de trabalho e acreditar que por cada dia trabalhado a mais o seu valor aumentará
na mesma proporção é, digamos, parvo. Faz-me lembrar aquele matemático que
teorizava acerca da possibilidade de dividir sempre qualquer número por dois. Teoricamente
um carro nunca embateria num muro ou noutro objecto fixo, porque estando, por
exemplo, a um metro ainda faltariam cinquenta centímetros para lá chegar. E
assim sucessivamente até ao infinito. Diz que morreu de acidente de viação.
Bateu contra uma parede.
... pois, deve ter-se esquecido de dividir!!
ResponderEliminarUm abraço.
Será que estes paspalhos julgam que estão a debitar só para ignorantes desprevenidos? que não lhes conhecemos os jogos? então, as grandes vigarices que empobreceram dramaticamente o país?
ResponderEliminarOs discursos de todos eles é como "chover no molhado" mas das falcatruas e ou corrupção e penalização não falam eles. Todos aguardam em liberdade a fazerem pelas suas ricas vidas em altos cargos preferencialmente públicos e os processos arrastam-se pelas ruas da amargura em que se transformou a justiça.
ResponderEliminarJulgam que o povo é burro mas as regras são sempre de forma a não podermos fugir...
Eu não sei que livros andou esta malta a estudar, mas parece-me algo a atirar para o ignorante confundir produção com produtividade. Esta última só aumenta trabalhando melhor, que é algo um bocadinho diferente de trabalhar mais... Ou então pensam que falam só para ignorantes.
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