domingo, 19 de fevereiro de 2012

Teóricos do trabalho


Alguns, de repente e assim quase do nada, descobriram as virtudes do trabalho. Nomeadamente aquelas que envolvem a alegada necessidade de trabalhar mais horas, de acabar com feriados, suprimir pontes, gozar menos dias de férias ou até, pasme-se, voltar a fazer do Sábado um dia normal de labuta. Porque, dizem, tem sido o incumprimento destes preceitos que nos conduziu até aqui e apenas trabalhando muito mais – tempo, entenda-se – sairemos da crise.
Noto inúmeras incoerências neste discurso. Principalmente quando, em simultâneo, se enaltece ou alude como necessário o “investimento” nesta ou naquela obra megalómana que lhes agrada particularmente. Mesmo que daí, passado o período de construção e muitos milhões depois, não resulte a criação de qualquer posto de trabalho. Pelo menos daqueles úteis e produtivos. Parece-lhes importar muito pouco que os mamarrachos – os tais “investimentos”, segundo eles - apenas pelo facto de existirem tenham custos significativos. Se calhar até mais pesados para o país do que umas quantas tolerâncias de ponto. São, aliás, conhecidos exemplos em que a demolição já chegou a ser ponderada como solução mais razoável.
Apesar de todo o historial de má aplicação dos recursos públicos, próprios ou vindos da Europa, insistem neste argumento patético. O rigor, quando se trata de gerir a coisa pública, apenas se lhes afigura importante quando em causa estão os direitos mais básicos das pessoas. Se for para construir edifícios onde poucos entram, estradas onde ninguém passa, infra-estruturas sem utilidade, distribuir benesses variadas por amigos ou compinchas ou empregar militantes do partido circunstancialmente no poder, então isso já é matéria pouco relevante e atirar para o populismo.
Mas, voltando à vaca fria – que é como diz a alegada necessidade de trabalhar mais e, por consequência, ter menos dias de lazer – tenho sérias dúvidas quanto ao real impacto na economia. Dividir o PIB pelo número de dias de trabalho e acreditar que por cada dia trabalhado a mais o seu valor aumentará na mesma proporção é, digamos, parvo. Faz-me lembrar aquele matemático que teorizava acerca da possibilidade de dividir sempre qualquer número por dois. Teoricamente um carro nunca embateria num muro ou noutro objecto fixo, porque estando, por exemplo, a um metro ainda faltariam cinquenta centímetros para lá chegar. E assim sucessivamente até ao infinito. Diz que morreu de acidente de viação. Bateu contra uma parede.

4 comentários:

  1. ... pois, deve ter-se esquecido de dividir!!
    Um abraço.

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  2. Será que estes paspalhos julgam que estão a debitar só para ignorantes desprevenidos? que não lhes conhecemos os jogos? então, as grandes vigarices que empobreceram dramaticamente o país?

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  3. Os discursos de todos eles é como "chover no molhado" mas das falcatruas e ou corrupção e penalização não falam eles. Todos aguardam em liberdade a fazerem pelas suas ricas vidas em altos cargos preferencialmente públicos e os processos arrastam-se pelas ruas da amargura em que se transformou a justiça.

    Julgam que o povo é burro mas as regras são sempre de forma a não podermos fugir...

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  4. Eu não sei que livros andou esta malta a estudar, mas parece-me algo a atirar para o ignorante confundir produção com produtividade. Esta última só aumenta trabalhando melhor, que é algo um bocadinho diferente de trabalhar mais... Ou então pensam que falam só para ignorantes.

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