Vivemos dias tristemente históricos. Dramáticos, até. Daí não perceber certas euforias, nem ver motivos para contentamento pela vinda do FMI. Ou do FEEF, como parece que agora se chama essa tropa de elite da alta finança. A receita que nos irão prescrever depressa fará desaparecer os motivos de satisfação que, ou muito me engano, rapidamente darão lugar aos habituais impropérios de desagrado.
Não vale a pena ter esperança em milagres. A mezinha desta gente é sempre a mesma. Ainda que, sistematicamente, produza resultados catastróficos. Aumento de impostos – que já estão no limite do tolerável – redução de salários e maior flexibilização das leis laborais vão, nem é preciso ser muito esperto para o perspectivar, arrasar o que resta do poder de compra das famílias e conduzir a uma recessão ainda maior que, por consequência, anulará o efeito da subida dos impostos. Depois, como sempre, voltarão à primeira forma e torna a aumentar a tributação. Foi assim que lhes ensinaram e eles não conseguem discorrer outra coisa.
Sendo o nosso maior problema o montante desmesurado que atingiu a divida do Estado, das empresas e dos particulares, não deixa de ser estranho que ninguém – nem os palhaços de cá nem os que aí vêm – se preocupe com uma reforma da justiça, que acabe de vez com a escandalosa protecção de que gozam os caloteiros e que torna praticamente impossível cobrar um divida a quem não tenciona cumprir as obrigações que assumiu.
Pensam alguns inteligentes – já ouvi este fantástico argumento – que, pela via da redução dos salários e do aumento dos impostos sobre o consumo, é possível obter uma diminuição do endividamento das famílias. Acreditam eles que, ganhando menos se recorrerá menos ao crédito e, assim, a divida privada baixará drasticamente. Só pensa desta maneira quem não conhece o povo que habita cá no rectângulo. Se ganharmos menos a primeira coisa que vamos fazer é deixar de pagar as prestações e, a seguir, comprar fiado. Haverá sempre alguém disposto a vender a crédito e um esquema manhoso qualquer a que recorrer para conseguir um empréstimo. Que, obviamente, não será pago. Depois quem se sentir lesado que recorra à justiça. Com sorte, daqui por muitos anos, conseguirá cobrar ao caloteiro o pouco que este receba a mais que o salário mínimo. Isto se o dito não recorrer. Ou interponha uma providência cautelar.
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