domingo, 1 de março de 2015

Austeridade e falta de memória (II)

Falar ou escrever sobre assuntos de que nada percebemos, por norma, dá asneira. E o que não falta é gente por aí a mandar bitaites acerca de coisas de que não percebe a ponta de um corno, como se diz por cá. Muitos, até, com responsabilidades na vida pública e que, por isso mesmo, deviam ter algum recato quando se pronunciam sobre temas que não dominam.
Veja-se o caso da divida portuguesa. Que, os números confirmam, está agora muito maior do que quando a troika chegou. Ora, se isto é verdade, não é a história toda. Convinha que se dissesse – entre outras coisas que podem justificar esse aumento - que o perímetro da divida foi substancialmente alargado. Ao contrário do que acontecia antes, o valor apurado passou a integrar a divida das empresas públicas e das empresas municipais. Para onde, recorde-se, anteriores governos tinham empurrado muita da despesa pública.
Mas, convinha também que alguns dos novos experts soubessem disso, a coisa ficou ainda pior. Actualmente integram igualmente o conceito de divida todas as participações do Estado. Ou seja. Basta uma autarquia deter uma participação, por exemplo numa cooperativa, para a divida dessa instituição passar a conta para o volume da divida pública.
Percebo que filósofos, médicos, juristas, jornalistas e o povo em geral gostem de discutir estas coisas. Podiam era fazê-lo depois de se informarem. Digo eu que uma vez dissertei sobre cozinha tchetchena e, naturalmente, saíram uns quantos disparates.



4 comentários:

  1. A realidade não é estática, o que é hoje não será amanhã e vice-versa. De qualquer forma, consultando o portal "PORDATA" pode-se verificar, sem qualquer dúvida e já depois e consignado o critério de integração da dívida das empresas públicas no OE, que a dívida nacional não pára de aumentar. Mesmo depois de terem cortado na despesa com as reformas, os vencimentos, nos roubos sem fim nas áreas sociais.Mesmo depois de terem deixado de pagar o subsidio de desemprego a 5 000 almas no último mês, daqueles que deixaram de contar para as estatísticas por terem esgotado o direito ao mesmo. Mesmo depois de instituírem os baixos rendimentos familiares e a fome nas crianças. Mesmo depois de terem tomado medidas "para além da troika"!!!... E mais não digo por desnecessário!!!...

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    1. Não diz mas digo eu: Ainda havia aquele conceito espantoso criado por Cavaco e que o Costa já se propôs recuperar que era o dos empréstimos - por exemplo para financiar a parte nacional dos fundos comunitários - que ficavam excluídos dos limites da divida que as instituições tinham de respeitar. Coisa a que a troika obviamente pôs fim.

      Quanto ao resto... já muito escrevi por aqui e por outros lados pelo que não vale a pena estar a repetir-me. Estamos, de facto, mal. E não é o PS que vai melhorar seja o que for. Precisávamos era de gente séria e de um povo que em vez de demagogias apreciasse, antes, o rigor.

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  2. Puseram o povo na mingua, uma classe média a pão e água, reduziram os funcionários públicos que trabalhavam muito...ou seja limparam tudo, será que limparam? No meio deste lodo todo entraram para o Estado quantos mais funcionários públicos pagos a peso de ouro e que não fazem a ponta de um corno? E Banco de Portugal e para a CGD? Quem se lixa é o mexilhão meu amigo e ai de ti se não pagares alguma coisa que ficas logo sem nada!

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    1. Cortaram os ordenados e aumentaram os impostos mas hoje gasta-se muito mais do que antes. Não é em pessoal é em aquisições de serviços. Daí que a despesa do Estado não baixe como devia baixar.

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