terça-feira, 13 de agosto de 2013

Coisas de fazer inveja ao Bob. O construtor.

Claro que não andámos a viver acima das nossas possibilidades. Obviamente que toda a obra construída ao longo do país, pelos poderes central e local, era absolutamente necessária. Naturalmente que havia dinheiro para a pagar. Ou se não havia ficava-se a dever e continuava-se a fazer mais, e mais e mais obra. Até que chegámos aqui. Graças aos muitos "autarcas-construtores" que se fartaram de obrar. E a nós, também, que rejubilámos com tanto desenvolvimento e que os aplaudimos de cada vez que obravam. É por isso que estamos na merda. Mas gostamos.
Segue-se a transcrição de um excerto da newsletter do IFPM, onde são dados alguns exemplos - poucos - do que tem sido o desbaratar do nosso dinheiro.

Autarquias endividadas e desertificadas
Endividadas e desertificadas, mas com obra feita. As câmaras construíram equipamentos nos últimos anos sem que isso tenha servido, sequer, para fixar a população.
Fomos de Algodres, concelho com menos de cinco mil habitantes, liderava em 2009 o 'ranking' das câmaras mais endividadas do País e nos últimos dez anos perdeu quase 700 moradores. Mas a fuga de população não terá acontecido por falta de investimento público: nos últimos anos, a pequena vila ganhou um novo Palácio da Justiça, um centro de saúde, uma central de camionagem, um novo quartel da GNR, um estádio de futebol, um quartel dos bombeiros e, mais recentemente, um centro escolar.
Além de todas estas infraestruturas, o concelho ainda se pode orgulhar de ter não um, mas dois espaços destinados à cultura. Até já existia um cine-auditório, construído para uma associação local, mas mesmo assim a câmara mandou fazer um novo centro cultural, inaugurado há cerca de cinco anos e que tem servido apenas para albergar um espaço internet.
Mas exemplos destes espalham-se por todo o território Nacional. Os dez municípios mais endividados do país perderam, nos últimos dez anos, segundo os resultados dos últimos censos, quase sete mil habitantes. Foram construídos centenas de edifícios com ajuda de Fundos comunitários sem que ninguém se tenha lembrado de que a manutenção dos mesmos iria sair do bolso dos munícipes. Em Alfândega da Fé, município que está em quarto lugar no 'ranking' do endividamento, há pelo menos um exemplo. Em 2008 foi inaugurado um Centro de Formação Desportiva que custou 1,7 milhões de euros. Obra possivelmente Seria necessária, mas muito provavelmente não seria prioritária.
Em Ourique, o Cine-teatro Sousa Telles, inaugurado em 2009, representou um investimento de mais de 1,5 milhões de euros. Quase quatro anos depois, só passa cinema de 15 em 15 dias. Além do cine-teatro, a câmara, que é sexta na lista do endividamento, também construiu um centro de convívio que teve um custo de 1,2 milhões e uma biblioteca em que se gastou perto de um milhão de euros. Já o pavilhão municipal, que é usado apenas seis vezes por ano, custou 581 mil euros.

Fundos "a dar com um pau"
Bruxelas atribui fundos e mais fundos e as autarquias vão aproveitando para fazer obra. Em muitos dos casos, as câmaras só têm de comparticipar a obra em 20 por cento, mas esquecem-se de que mesmo essa fatia tem de ter retomo.
O concelho do Sardoal, no distrito de Santarém, perdeu quase 200 habitantes na última década e está em 16.° lugar no 'ranking' do endividamento. A autarquia mandou erguer o Centro Cultural Gil Vicente, uma obra que custou três milhões de euros, comparticipada em 75 por cento. O espaço foi inaugurado em 2004 (no mesmo dia em que abriu uma piscina coberta que custou mais de meio milhão de euros), mas em 2011 só tinha projectado 13 filmes.
Em Penamacor, onde já só restam menos de seis mil habitantes, construíram-se umas piscinas aquecidas, orçadas em 1,35 milhões, que encerram ao fim-de-semana.
No Alentejo, Portalegre - que é capital de distrito -, perdeu mais de mil habitantes, apesar dos avultados investimentos realizados . nos últimos anos. O novo edifício da câmara, que também é centro de congressos, custou 7,4 milhões de euros. O museu da cidade implicou um investimento de 1,7 milhões e o centro de espectáculos 8,7 milhões, segundo o gabinete de imprensa da autarquia.
Em Seia, que pertence à NUT da Serra da Estrela (a região do País que mais habitantes perdeu entre 2001 e 2010), construíram-se dois museus e um centro de interpretação. No mesmo município, na freguesia de São Romão, um gimnodesportivo custou 1,9 milhões de euros.

Obras para ninguém
Já em Torre de Moncorvo gastaram-se 1,3 milhões de euros numa eco-pista para "amantes de caminhadas", segundo o gabinete de imprensa da câmara. Na sede do município transmontano ainda há cinema uma vez por semana, no cine-teatro inaugurado em 2005 e que custou cerca de 700 mil euros. Mas a média de assistência é bastante reduzida.
A câmara de Nisa, que perdeu mais de 1.100 habitantes, também está na lista dos municípios mais endividados. Culpa, disse a presidente ao jornal "i", da construção de um complexo termal que custou 10 milhões de euros, comparticipados em 25 por cento pela autarquia, e que obrigou à contracção de um empréstimo. Quase quatro anos depois da inauguração, Maria Tsukamoto admite que o retomo não tem sido "o esperado", essencialmente por causa da "crise que o País atravessa".
Já a câmara do Fundão, nona no ranking do endividamento,-perdeu mais de dois mil habitantes na última década. Em 2005, segundo o gabinete de imprensa municipal, a autarquia inaugurou uma biblioteca que custou 2,5 milhões de euros. No ano seguinte, ficou concluído o espaço cultural "A Moagem", que custou cinco milhões. Em 2007, apareceu um novo museu que custou 750 mil euros. Em 2009 foi recuperado o Palácio do Picadeiro, cujas obras estavam orçadas em 2,1 milhões de euros.

2 comentários:

  1. Até me engasguei e cá vou sabendo de "maluqueiras absurdas" como as que descreves e os gastadores fomos nós!

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  2. Fatyly

    Infelizmente a maioria do pagode é disto que gosta. Se alguém perguntar aos moradores destes concelhos se estão contentes por ter sido feita tanta obra, eles responderão que sim. Mesmo que não a utilizem ou nem desconfiem para que serve.

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