Claro
que não andámos a viver acima das nossas possibilidades. Obviamente
que toda a obra construída ao longo do país, pelos poderes central
e local, era absolutamente necessária. Naturalmente que havia
dinheiro para a pagar. Ou se não havia ficava-se a dever e
continuava-se a fazer mais, e mais e mais obra. Até que chegámos
aqui. Graças aos muitos "autarcas-construtores" que se fartaram de obrar. E a nós,
também, que rejubilámos com tanto desenvolvimento e que os
aplaudimos de cada vez que obravam. É por isso que estamos na merda.
Mas gostamos.
Segue-se a transcrição de um excerto da newsletter do IFPM, onde são dados alguns exemplos - poucos - do que tem sido o desbaratar do nosso dinheiro.
Autarquias
endividadas e desertificadas
Endividadas
e desertificadas, mas com obra feita. As câmaras construíram
equipamentos nos últimos anos sem que isso tenha servido, sequer,
para fixar a população.
Fomos
de Algodres, concelho com menos de cinco mil habitantes, liderava em
2009 o 'ranking' das câmaras mais endividadas do País e nos últimos
dez anos perdeu quase 700 moradores. Mas a fuga de população não
terá acontecido por falta de investimento público: nos últimos
anos, a pequena vila ganhou um novo Palácio da Justiça, um centro
de saúde, uma central de camionagem, um novo quartel da GNR, um
estádio de futebol, um quartel dos bombeiros e, mais recentemente,
um centro escolar.
Além
de todas estas infraestruturas, o concelho ainda se pode orgulhar de
ter não um, mas dois espaços destinados à cultura. Até já
existia um cine-auditório, construído para uma associação local,
mas mesmo assim a câmara mandou fazer um novo centro cultural,
inaugurado há cerca de cinco anos e que tem servido apenas para
albergar um espaço internet.
Mas
exemplos destes espalham-se por todo o território Nacional. Os dez
municípios mais endividados do país perderam, nos últimos dez
anos, segundo os resultados dos últimos censos, quase sete mil
habitantes. Foram construídos centenas de edifícios com ajuda de
Fundos comunitários sem que ninguém se tenha lembrado de que a
manutenção dos mesmos iria sair do bolso dos munícipes. Em
Alfândega da Fé, município que está em quarto lugar no 'ranking'
do endividamento, há pelo menos um exemplo. Em 2008 foi inaugurado
um Centro de Formação Desportiva que custou 1,7 milhões de euros.
Obra possivelmente Seria necessária, mas muito provavelmente não
seria prioritária.
Em
Ourique, o Cine-teatro Sousa Telles, inaugurado em 2009, representou
um investimento de mais de 1,5 milhões de euros. Quase quatro anos
depois, só passa cinema de 15 em 15 dias. Além do cine-teatro, a
câmara, que é sexta na lista do endividamento, também construiu um
centro de convívio que teve um custo de 1,2 milhões e uma
biblioteca em que se gastou perto de um milhão de euros. Já o
pavilhão municipal, que é usado apenas seis vezes por ano, custou
581 mil euros.
Fundos "a dar com um pau"
Bruxelas
atribui fundos e mais fundos e as autarquias vão aproveitando para
fazer obra. Em muitos dos casos, as câmaras só têm de
comparticipar a obra em 20 por cento, mas esquecem-se de que mesmo
essa fatia tem de ter retomo.
O
concelho do Sardoal, no distrito de Santarém, perdeu quase 200
habitantes na última década e está em 16.° lugar no 'ranking' do
endividamento. A autarquia mandou erguer o Centro Cultural Gil
Vicente, uma obra que custou três milhões de euros, comparticipada
em 75 por cento. O espaço foi inaugurado em 2004 (no mesmo dia em
que abriu uma piscina coberta que custou mais de meio milhão de
euros), mas em 2011 só tinha projectado 13 filmes.
Em Penamacor, onde já só restam menos de seis mil habitantes, construíram-se umas piscinas aquecidas, orçadas em 1,35 milhões, que encerram ao fim-de-semana.
Em Penamacor, onde já só restam menos de seis mil habitantes, construíram-se umas piscinas aquecidas, orçadas em 1,35 milhões, que encerram ao fim-de-semana.
No
Alentejo, Portalegre - que é capital de distrito -, perdeu mais de
mil habitantes, apesar dos avultados investimentos realizados . nos
últimos anos. O novo edifício da câmara, que também é centro de
congressos, custou 7,4 milhões de euros. O museu da cidade implicou
um investimento de 1,7 milhões e o centro de espectáculos 8,7
milhões, segundo o gabinete de imprensa da autarquia.
Em Seia, que pertence à NUT da Serra da Estrela (a região do País que mais habitantes perdeu entre 2001 e 2010), construíram-se dois museus e um centro de interpretação. No mesmo município, na freguesia de São Romão, um gimnodesportivo custou 1,9 milhões de euros.
Em Seia, que pertence à NUT da Serra da Estrela (a região do País que mais habitantes perdeu entre 2001 e 2010), construíram-se dois museus e um centro de interpretação. No mesmo município, na freguesia de São Romão, um gimnodesportivo custou 1,9 milhões de euros.
Obras para ninguém
Já
em Torre de Moncorvo gastaram-se 1,3 milhões de euros numa eco-pista
para "amantes de caminhadas", segundo o gabinete de
imprensa da câmara. Na sede do município transmontano ainda há
cinema uma vez por semana, no cine-teatro inaugurado em 2005 e que
custou cerca de 700 mil euros. Mas a média de assistência é
bastante reduzida.
A
câmara de Nisa, que perdeu mais de 1.100 habitantes, também está
na lista dos municípios mais endividados. Culpa, disse a presidente
ao jornal "i", da construção de um complexo termal que
custou 10 milhões de euros, comparticipados em 25 por cento pela
autarquia, e que obrigou à contracção de um empréstimo. Quase
quatro anos depois da inauguração, Maria Tsukamoto admite que o
retomo não tem sido "o esperado", essencialmente por causa
da "crise que o País atravessa".
Já
a câmara do Fundão, nona no ranking do endividamento,-perdeu mais
de dois mil habitantes na última década. Em 2005, segundo o
gabinete de imprensa municipal, a autarquia inaugurou uma biblioteca
que custou 2,5 milhões de euros. No ano seguinte, ficou concluído o
espaço cultural "A Moagem", que custou cinco milhões. Em
2007, apareceu um novo museu que custou 750 mil euros. Em 2009 foi
recuperado o Palácio do Picadeiro, cujas obras estavam orçadas em
2,1 milhões de euros.
Até me engasguei e cá vou sabendo de "maluqueiras absurdas" como as que descreves e os gastadores fomos nós!
ResponderEliminarFatyly
ResponderEliminarInfelizmente a maioria do pagode é disto que gosta. Se alguém perguntar aos moradores destes concelhos se estão contentes por ter sido feita tanta obra, eles responderão que sim. Mesmo que não a utilizem ou nem desconfiem para que serve.