Isto de achar que as dividas não são para pagar é uma ideia que parece fazer escola. Não falta quem pense assim. Alguns ainda condescendem que, vá lá, se vão pagando. Aos poucos, para não ir aborrecendo nem prejudicando a carteira do devedor. Num país de caloteiros como o nosso não é de admirar que este tipo de pensamento tenha tantos seguidores. Afinal basta olhar para os processos que entopem os tribunais, para a carteira de clientes dos agentes de execução ou falar com um qualquer comerciante para perceber o quanto, cá pelo rectângulo, esta prática se encontra enraizada.
Vem isto a propósito – mas nem precisava – de um texto que li um destes dias, em que a autora, sob forma de conselho a um presidente de câmara recém eleito e que pela primeira vez vai dirigir os destinos de um concelho altamente endividado, dava sugestões quanto à melhor maneira de pagar a divida. Que sim senhor, deve ser paga. Mas devagar. Aí tipo 4% ao ano. Ou seja, os últimos credores receberiam daqui por 25 anos. E é para quem quer que isto, diz ela, a câmara não pode parar nem estar obcecada com o pagamentos de dividas e entre os primeiros estão, na sua douta opinião, os agentes desportivos e culturais.
É por estas e por outras que nunca chegaremos a lado nenhum. Com este tipo de pensamento o país continuará a afundar-se, a rebentar com as empresas a quem não paga, a mandar gente para o desemprego, jovens para o estrangeiro e a tornar-se cada vez mais insustentável. Pena que esta gente não seja tão magnânima quando em causa está o seu bolso. Sempre gostava de saber se, entre os muitos que defendem este tipo de tese, haverá alguém disposto a emprestar-me mil euros. Garanto que não vou ficar obcecado quanto à parte do pagamento. Pago-vos quarenta euros por ano e não se fala mais nisso.
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