quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Um estranho conceito de convergência

Os últimos governos, em particular o actual, têm pautado a sua actuação por um feroz ataque aos trabalhadores da função pública. Chamam-lhe convergência, ou lá o que é, com o regime aplicável a quem trabalha na iniciativa privada e merece o aplauso entusiástico de amplos sectores da sociedade. É, pode dizer-se sem grande margem de erro, um dos poucos assuntos que reúne um estranho consenso entre a opinião pública e a publicada. Estranho, porque ou isto é um país de gente burra que come a palha toda que lhe põem na gamela ou, não sendo burros, são todos uns filhos da puta que desejam o pior possível aos outros. Ainda que daí não tirem qualquer proveito.
Vem isto a propósito da decisão do governo em aumentar para 3,5% o desconto para a ADSE. A ideia, dizem, é que o Estado deixe de financiar o sistema e o mesmo se torne auto-sustentável. Isto porque, segundo opinião que faz escola, não têm de ser os contribuintes a pagar os privilégios dos funcionários públicos. No entanto ninguém se incomoda que as empresas deduzam os custos com os seguros de saúde dos seus trabalhadores em sede de IRC. Como se neste caso não estivesse em causa o dinheiro dos contribuintes! Ou seja: O Estado não pode comparticipar a ADSE, mas pode, através dos impostos que deixa de receber, financiar os seguros de saúde de quem trabalha no privado. Deve ser isto a que chamam convergência...
Pouco convergente parece, também, o facto de quem tem seguros de saúde – pagos pelo próprio, não pela empresa – os possa deduzir no IRS. É que o mesmo principio não se aplica aos beneficiários da ADSE, dado que os descontos para este sistema não são dedutíveis naquele imposto.
Mas nada disto parece importar. O que importa é malhar nos mesmos. É disto que o povo gosta. É isto que dá votos. Ou não fosse o povo burro, ignorante, invejoso e mesquinho. Digno dos governos que tem, portanto.

7 comentários:

  1. Seguros de saúde de quem trabalha no privado? essa agora......., quando tiver disponibilidade logo me explica essa descoberta. Você é F Publico? então se for está explicado e está perdoado pela asneira.

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    1. Caro anónimo

      Obrigado por ter comentado e, já agora, pela absolvição.

      O seu comentário ilustra na perfeição o que acabo de escrever. Melhor seria difícil.

      Quanto a isso da explicação...olhe, deixe lá. Provavelmente não seria capaz de lhe explicar de forma a que o exmº comentador entendesse. Mas não se preocupe. Infelizmente a ignorância não é exclusivo seu.

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    2. Bem, se existe ignorância, ela só pode estar do seu lado, pelo que vejo você é F. Público, e está a defender o seu tacho, recebendo do que os privados pagam em impostos, deixe-me fazer-lhe uma pergunta, o que é que vocês FP produzem? o que que é que vocês exportam? a ignorância chega a isto, se Portugal está em crise, o dinheiro está nos vossos bolsos, o 25 de Abril só foi bom para vocês, deram-lhes tudo, e agora querem-lhes tirar umas migalhas, e vocês dizem não! porque não vão trabalhar para o sector privado? se lá é tão bom............, até existem seguros de trabalho pagos pelo estado, que encanto, tenham vergonha e não explorem mais quem trabalha para pagar impostos e vocês receberem os grandes ordenados e as grandes regalias de serem empregados públicos.

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  2. Meu caro

    não se pode mudar de povo

    mas é possível ajudar
    a mudá-lo nas urnas

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    1. Não me parece. Nós não queremos. Basta ver que não aprendemos nada com esta crise e andamos já a esfregar as mãos de contentes por a troika se ir embora ansiosos por voltar à vidinha de sempre. Oxalá me engane mas não dou nem dez anos para estarem cá outra vez!

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