
O dono - cujo nome não será aqui revelado – deste simpático cachorro sempre me garantiu que ele não é cão de andar por aí a cagar pelos passeios. Quando muito faria as suas necessidades no alcatrão. E isso, na sua opinião que eu em parte corroboro, não faria grande mal porque os automóveis encarregam-se de espalhar a matéria sem que daí resulte algum prejuízo para quem anda a pé. Confesso que tinha, até hoje, algum cepticismo acerca da intuição do animal em escolher a faixa de rodagem em detrimento do passeio como local de eleição para fazer a sua cagada. Provavelmente será um qualquer desprendimento relativamente às coisas terrenas, ou então um fraco instinto de sobrevivência, que o faz optar pelo sítio onde circulam potenciais ameaças capazes de o levar, digamos, a falecer. Seja como for é preferível que assim continue.
Acredito que por esta altura já muitos estranhem a ausência de impropérios e a benevolência com que me refiro ao canito que, espantar-se-ão uns quantos, até apelido de simpático. Acreditem que é mesmo. É dos poucos que não me rosna e embora não revele especial afectividade para comigo, manifesta uma relativa tolerância à minha passagem por aquilo que será o seu “território”. Ou seja, sou-lhe completamente indiferente. O que já não é mau.
O desfoque da imagem, na zona do focinho, destina-se a preservar a identidade do cão. Numa altura em que tanto se reclama do direito de reserva relativamente à vida privada, mesmo quando publicamente se faz tanta merda, parece-me da mais elementar justiça que, por tão pouca, se use o mesmo princípio. Por isso e porque o canito, qual
Manel Maleiro de quatro patas, ainda era capaz de considerar a hipótese de me processar por clara devassa da vida privada!