sábado, 20 de outubro de 2012

O Estado paizinho



Constitui para mim um mistério sem explicação racional que, em Portugal, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda não obtenham, de cada vez que há eleições, noventa por cento dos votos. Ou, mínimo dos mínimos, a maioria absoluta. Isto porque os portugueses adoram que o Estado regulamente o mais ínfimo pormenor das suas vidinhas. Acham mesmo que constituiu um dever fundamental do Estado dar-lhes tudo. Desde as pílulas contraceptivas, para a malta fornicar à vontade – e pagar o aborto caso tenham o azar de calhar na margem de erro – até pagar-lhes o funeral, não vá dar-se o caso de começar a ficar gente por enterrar. Não se percebe por isso que chegada a altura de fazer a cruzinha no boletim de voto a mão escorregue para outras opções que prometem quase sempre reduzir a intervenção do Estado na vida dos cidadãos.
Atente-se, só a título de exemplo e deixando de lado outras premissas, no caso recente da miúda de Quarteira a quem não terá sido serviço o almoço por causa de uma alegada divida dos pais. O assunto desencadeou uma onda de comentários parvos, petições imbecis e levou inclusivamente uns quantos a apelarem a que seja consagrada na lei a obrigatoriedade do Estado garantir, de forma gratuita, as refeições escolares a todas as crianças. Cuidava eu, vá lá saber-se onde é que fui buscar esta ideia, que a alimentação dos filhos – em todas as circunstâncias – era obrigação dos pais. Pois parece que não. Que nisso, como em quase tudo, o melhor é desresponsabilizar os progenitores - esses já tem os cães para se preocupar – e passar essa ancestral responsabilidade parental para o Estado protector.
Para além desta estranha tendência de simpatizar com princípios comunistas mas votar em partidos de direita, os portugueses – o caso acima mencionado é especialmente elucidativo – tem também o mau hábito de “emprenhar pelos ouvidos”. Ou, como prefiro dizer, comem toda a palha que lhes põem na camela.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ir (apenas a alguns bolsos) para além da troika



Desde o inicio da intervenção da troika que o PSD anunciou a sua intenção de ir além das medidas que constavam do memorando de entendimento assinado pelo anterior governo. Os portugueses é que não perceberam o que líder dos sociais-democratas queria dizer com tal afirmação. Ou então não ligaram nenhuma. A verdade é que nem nisso o homem cumpriu na totalidade. Se, naquilo que afecta quem trabalha, a ultrapassagem das metas impostas foi feita com toda a tranquilidade e sem medo de greves, manifestações ou protestos diversos, já relativamente àqueles que lhe apertam os calos a criatura piou fininho.
As autarquias locais são disso o melhor exemplo. Escapam à extinção de um número significativo de municípios, recebem o bónus do IMI, que poderá – segundo algumas estimativas - atingir os quatrocentos milhões de euros, em resultado do acréscimo de receita proveniente da reavaliação dos imóveis e não perdem os 175 milhões de euros que o ponto 1.29 do memorando determinava que ia ocorrer em 2013. Em troca - imagine-se o topete - do cumprimento da lei dos compromissos!!!!!! Como se, para cumprir uma lei da república, fosse condição oferecer dinheiro como contrapartida!
É o que dá esta coisa da democracia e de não ser possível suspendê-la por uns anos. As eleições estão quase à porta e para as ganhar, para além de uma boa dose de populismo, são necessários recursos financeiros. Fico, no entanto, tranquilo quanto à maneira como será gasto tanto milhão. Boa mesa e boa música não vão faltar. Os velhotes que o digam lá mais por altura do Natal.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

IVA e homens das tabernas



Os empresários da restauração – taberneiros, como eram conhecidos até há alguns anos – lamentam-se da taxa de IVA, a máxima, que é aplicada às vendas que efectuam aos seus fregueses. Terão certamente as suas razões. Logo pelo montante que o imposto representa no valor do serviço que prestam e, depois, por isso constituir um factor que pode afastar a clientela dos seus estabelecimentos. Estranhamente ainda não ouvi queixas, mas devo ser eu que não tenho prestado atenção suficiente, à forte probabilidade de a elevada carga fiscal que incide sobre este negócio potenciar uma fuga da freguesia para a economia paralela. O que me leva a concluir que no sector não haverá fuga ao fisco e que todos são exemplares cumpridores dessa coisa das obrigações fiscais, ou lá o que é.
A lamúria desta gente roda, invariavelmente, em torno de uma alegada dificuldade em “pagar o IVA às finanças”. Confesso, ninguém me manda ser ignorante, que quando ouvi esta expressão pela primeira vez pensei que existissem problemas nas repartições de finanças – bichas, avarias, greves ou tragédias diversas - que inviabilizassem essa pretensão. É que, na maioria dos casos, ninguém sai de um café, restaurante ou espelunca similar, sem pagar a conta. Onde, cuidava eu, estaria incluído o IVA. Parece, afinal, que tenho andado enganado estes anos todos e que a coisa não funciona bem assim. A julgar pela conversa ao valor pago pelos clientes acrescerá, então sim, o imposto. E é precisamente essa importância – 23% - que os bons dos taberneiros dos tempos modernos se vêem à rasca para arranjar. Pois. Compreendo a dificuldade.
A inocência desta classe é comovedora. A julgar pelos seus lamentos parecem acreditar piamente que uma redução da taxa de imposto iria melhorar o seu negócio. Talvez tenham alguma razão. Mas para quem está convencido que é ele que paga o IVA, ainda que este baixasse para zero, dificilmente reduziria os preços. E quem pensa o contrário que faça um pequeno esforço de memória e tente lembrar-se do que foi, neste sector, a transição para o euro…

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Desnorteados



É opinião – uma evidência, diria - mais ou menos unânime que o governo está numa situação de absoluto desnorte. O mesmo, ainda que tal apreciação não recolha idêntica unanimidade, se passa com os restantes portugueses que não integram o restrito grupo de ministros, nem o assim não tão restrito grupo de adjuntos, assessores e outros pingentes que rodeiam os governantes. Está tudo desnorteado.
Ainda me recordo do tempo em que, para muitos daqueles que hoje protestam, cortar salários era uma coisa aceitável. Roubar dois ordenados por ano não era algo assim tão mau nem, para os refilões de agora, constituía motivo para protestos. Tenho também uma vaga ideia do assalto aos bolsos de centenas de milhar de portugueses não suscitar grandes preocupações quanto aos efeitos perversos e devastadores que isso teria na economia. Não foram poucos – provavelmente até alguns do que hoje reclamam – os que tentaram fazer-me ver que aquelas eram as medidas certas e que eu estava redondamente enganado.
Tenho, pelo atrás escrito, todo o à-vontade para recordar a esta malta que não há dinheiro. Por mais que se manifestem, atirem pedras, partam coisas ou mostrem as mamocas. Pena que não tenham feito o mesmo antes. Já não digo há um ano atrás, quando estas coisas apenas atingiam uns quantos malandros. Nem, sequer, desde há dez ou quinze anos quando políticos de toda a espécie esturraram o dinheiro que, então, já não havia. Podiam, pelo menos, ir fazer idêntica chinfrineira junto daqueles que todos os dias anunciam novas obras – megalómanas e de utilidade duvidosa, quase sempre - com o dinheiro que não há.  E com gajas nuas, de preferência.

domingo, 14 de outubro de 2012

A propósito de coisas do terceiro mundo



Há quem não goste de ver o Rossio Marquês de Pombal, em Estremoz, cheio de automóveis. Diz que lhe dá um ar terceiro mundista, próprio de países com um acentuado deficit de desenvolvimento social e intelectual dos seus habitantes. Coisa de gente atrasada, portanto. Por mim não sei nada disso. Nem é assunto que integre a minha lista de preocupações mais imediatas. Ou longínquas, sequer.  Agora, de verdade, o que não gosto mesmo nada é de forasteiros que vêm para cá lavar roupa suja. Ou pior. Estendê-la.